Estava D. João I em Coimbra, em 1423, quando teve que decidir sobre um pedido estranho, no mínimo, que lhe fazia o povo de Tomar. Dizia o rei, na sua sentença, que em Tomar havia um costume curioso: quando um homem casava pela segunda vez, subia até à porta do castelo, a cavalo e de lança na mão, levando um alqueire de pão e um cântaro de vinho. Lá chegado, cravava a lança na porta e gritava: - Cavalo quero ser! Foto 1, Foto 2, Foto 3 Vinha o alcaide do castelo à porta, recolhia o pão e o vinho, enquanto o noivo partia para se casar. Ora, agora o alcaide não queria cumprir esta tradição e o povo de Tomar vem pedir ao rei que mantenha este costume. É um hábito tão estranho que parece impossível! Mas talvez haja uma explicação… A carta de D. João I também dizia que quem não fizesse isto tinha de pagar ao alcaide um oitavo dos seus bens, para poder voltar a casar. Parece que os homens de Tomar preferiam ser cavalos a ser burros e pagar este imposto. Não por ser um imposto, mas por ser injusto. A verdade é que D. João I ordenou que o costume se mantivesse: “… E nós, vendo o que nos pedia, e querendo-lhes fazer graça e mercê, mandamos que se lhes usem do dito costume, pela guisa que sempre usaram; e não seja nenhum Alcaide da dita Vila, nenhum qualquer que seja, que lhes contra o dito costume vier, em parte, nem no todo.”. Já no século XV (1468), outro alcaide tentou modificar as coisas e mais uma vez a decisão foi a favor do povo. Em 1502, D. Manuel I veio a Tomar para ver as obras na torre da igreja de S. João e foi então que ordenou o fim do costume da “Cavalgagem”. Os homens de Tomar podiam agora casar uma segunda vez, livremente, sem quaisquer obrigações para com o alcaide. |
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