Tomar
 
 
Judiaria, actual rua Dr. Joaquim Jacinto.
 

Durante a Idade Média, o povo judeu foi alvo de muitas perseguições.

A principal razão para essa injustiça era o facto de praticarem uma religião diferente, o Judaísmo. Mas também é verdade que por se fixarem nas cidades, se dedicarem ao comércio e ao empréstimo de dinheiro, os mais ricos tornaram-se alvo da inveja dos cristãos.

Em Tomar, como no resto do país e da Europa, os judeus não foram sempre tratados da mesma maneira.

Durante o século XV, especialmente quando D. Henrique foi Governador da Ordem de Cristo, muitos judeus se fixaram na vila, atraídos pelo desenvolvimento comercial que o Infante deu a Tomar.

Eram obrigados a morar todos na mesma rua, a Judiaria, e só podiam andar na cidade durante o dia. Foto 1

Todavia, tinham liberdade de exercer qualquer profissão e, sobretudo, para praticarem a sua religião. Os judeus de Tomar tiveram mesmo autorização para construírem a sua sinagoga. Foto 2

Continuaram a viver neste clima de relativa liberdade até que, no reinado de D. Manuel, começaram a ficar inquietos com o que acontecia no vizinho reino de Castela. Os judeus estavam a ser perseguidos e expulsos, chegando cada vez mais refugiados a Portugal.

Os piores receios tornaram-se realidade, quando o rei português também ordenou a sua expulsão, condição para o casamento com uma filha dos reis de Castela. Então, os judeus começaram a preparar a sua partida, mas o rei tinha outras intenções…

D. Manuel tinha de cumprir o acordado, para se poder casar com a infanta D. Isabel. Porém, não queria que os judeus partissem, pois eles eram uma boa parte do saber e da riqueza do país.

O rei pôs em prática um terrível plano. Mandou retirar aos pais todas as crianças com menos de 14 anos, espalhando-as pelo o reino, para serem educadas como cristãs. Depois, ordenou que todos os judeus se juntassem em Lisboa, donde partiriam, tendo-se concentrado cerca de 20.000 pessoas. Aí, em troca da promessa de lhes devolver os filhos, o rei obrigou-os a “converterem-se” ao Cristianismo. Assim, "cristãos", já poderiam ficar.

Desta maneira, contra a sua vontade, foram baptizados milhares de judeus, agora chamados cristãos-novos.

A perseguição foi ainda pior, sobretudo depois da Inquisição chegar a Portugal. Este tribunal vai condenar muitos cristãos-novos a morrerem, queimados na fogueira, pelo “crime” de terem uma religião diferente.

Os documentos mostram que houve, pelo menos, dois autos-de-fé em Tomar, um em 1543 e outro no ano seguinte. Foto 3

Jorge Manuel foi um dos mortos pelo fogo. Um dos muitos judeus a quem D. Manuel I baptizara à força, depois de lhe tirar o seu primeiro filho, então uma criança de meses.

Quarenta e sete anos depois, Jorge Manuel era um cristão-novo já de idade avançada, grande comerciante de tecidos e um dos homens mais ricos de Tomar. É quando vai ser apanhado pela Inquisição.

Acusam-no de dar passeios com outros cristãos-novos, em lugares como a Várzea Grande ou a Ponte Velha, sem a companhia de cristãos-velhos que pudessem ouvir as suas conversas. Foto 4, Foto 5

A sua riqueza também causava inveja aos cristãos velhos. Outra das acusações que lhe fizeram foi a de viver e de enriquecer à custa dos cristãos, porque Jorge Manuel, num tempo em que os bancos ainda não existiam, emprestava dinheiro com juros.

Num dia de Junho de 1544, junto aos Estaus, Rui de Andrade, Gaspar Zuzarte e Jorge Manuel foram mortos na fogueira, mas o que os matou foi a desconfiança, o medo e a inveja dos acusadores. Como, um ano antes, já acontecera com Beatriz Gonçalves. Foto 6.

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